Sábado 21 de Julho de 2007.
São neste momento 11:20 e a minha casa está em paz.
A Martinha dorme a sono dos justos. O Benny levou a Rita para a praia. Não se ouve qualquer barulho na minha casa, a não ser o martelar das teclas e a ventoinha do pc.
As lágrimas que me escorrem pela cara a baixo são silenciosas, assim como o nó que cresce na minha garganta. A minha pele tem todos os sensores activos e aparece que está arrepiada, quando na verdade sei que só está sensível. Sensível à minha dor.
A minha dor é colossal e ao mesmo tempo minúscula. Minúscula e quase inexistente porque não tem qualquer razão de ser. Sou uma pessoa feliz, sem quaisquer problemas a não ser a dependência de drogas que tenho exorcizar.
Este fantasma é forte, mas com a ajuda de Deus e de todos os que me amam, hei de vence-la.
Á medida que as lágrimas me correm pela cara abaixo, senti a dor a passar.
Sinto a sensibilidade a regressar ao normal, como se fosse uma dança de hipnose completamente absurda, como se andasse a dançar a valsa de Strauss com um fantasma enorme que me quer fazer infeliz, mas ao qual eu não dou tréguas.
Este é um exercício do auto-ajuda, num desejo desesperado de derrotar.
E estou, e hei-de conseguir, pois nada será mais forte que minha vontade de o vencer.
Estas linhas são escritas com grande dor física, mas também psicológica, com dores estúpidas que tal semáforo intermitente, vão e vêem. São tão estúpidas que não percebem que mais dia, menos dia, mais hora menos hora, mais minuto ou segundo eu hei-de vence-as e ela deveriam dar-se já por derrotadas. Deveriam dar-me tréguas. Mas em vez disso dão-me luta. Dão luta por que sabem que sou forte. Que sou teimosa, obstinada e que não me renderei aos tremores que sinto. Não me renderei ás tonturas que a minha cabeça sente. Sou forte, sou teimosa a minha cabeça é de pedra e não se deixa vencer. Não me deixarei vencer. Hei-de escrever sempre algo quando quiser regressar ás drogas. Sempre que sentir o corpo ou mente a quebrar aos fantasmas, hei-de escrever, para vence-los todos. Estas drogas que me fazem sentir bem, ou não sei apenas normal, como os outros que vejo na rua. E que foi tão fácil cair nelas. Sou tão toxicodependente como qualquer um, como qualquer pobre diabo que vejo na rua, como qualquer um que quis ascender a outro mundo, um mundo alucinogenico e que nunca mais conseguiu sair. Dou dependente. Sou dependente de toxinas, que me fazem mal, muito mal, mas que afinal só me põem igual a outros. A mim que não quis reconhecer que a sensibilidade faz parte do meu ser, faz parte da pessoa que sou, nasci assim e não devo disfarçar o meu âmago. Sou dependente porque numa altura quem em estava mais sensível e que queria esconder isso do resto do mundo, não quis ser fraca, não quis dar o braço a torcer e recorri a um médico. Este médico como qualquer outro, bem os haja, só quis o meu bem, quis ajudar-me e devolver-me a sanidade mental. Mas ela nunca esteve fora de mim.
Estava apenas adormecida, numa dança de sensibilidades. Deve haver talvez uns dez anos, não sei a data. Mas lembro-me como se fosse hoje. O médico diagnosticou ansiedade e depressão…… e receitou um medicamento. Um anti-depressivo que deveria tirar-me esta vontade de chorar sem razão aparente. Este pico de sensibilidade e de ansiedade, que hoje compreendo não eram mais do que eu. Do que a minha alma, a minha natureza sensível, que na altura precisava de exteriorizar. Numa altura que em vez de chorar, chorar, apenas chorar como este exercício de auto cura, não. …. Preferi que o médico me receitasse esta pequena ajuda.
Enquanto levo a mão ao coro cabeludo, arrepiado até mais não, desta hiper sensibilidade que me invade o âmago, lembro-me do quão segura me senti quando levei o 1º medicamento à boca. Jurei que nunca mais me sentiria chorona, sensível e com tanta vergonha de ser assim, que teria de o esconder do resto do mundo. Sim, porque foi a vergonha, uma grande vergonha de me sentir assim, que me levou a esconder. Foi a vergonha de chorar quando as circunstâncias mo pediam, mas que eu não podia vergar a isso. As circunstâncias seriam para qualquer mortal as mais simples deste mundo. Na altura trabalhava como qualquer trabalhador estudante, e tinha um caminho a percorrer para estudar. Mas tirar um curso na universidade não é só tirar…. É suar, é chorar, é temer, é falhar ….. ou então não, é apenas desistir…. Mas eu não sou nem nunca serei uma desistente, não desisto de mim, de ser feliz, dos meus sonhos… e o meu sonho era conseguir tirar esse bendito curso. Faz parte de mim, querer mais e mais. Sou ambiciosa…… não ia deitar anos de esforço, dedicação e de noites mal dormidas pelo cano abaixo….não senhor! Isso não faz parte de mim. Iria seguir em frente, sempre de cabeça levantada tal guerreiro em batalha. Porque esta foi uma batalha que não ia perder…… Foi uma batalha que foi muito difícil. Mas que precisei de ajudas, de muitas ajudas pessoais para conseguir. A minha família que sempre esteve comigo, que sempre me deu animo, que sempre me deu força…… O meu amor, essa pessoa linda, que tenho e terei sempre comigo, se por vezes me disse “força, amor, estou contigo pró que der e vier” e que na realidade sempre esteve presente, nem que fosse para apenas me passar a mão pelo cabelo e me dizer que não estava sozinha….. infelizmente o meu ser teve sempre medo, muito medo da sensibilidade ser vista pelos de fora como uma fraqueza e não como uma força. Uma força que faz de mim quem sou hoje. Uma força que esteve adormecida durante este dez anos e que agora quer sair por todos os poros da minha pele, a uma velocidade estonteante. Porque estive adormecida, estive dormente. Sim, dormente é a melhor palavra que poderei usar para descrever o meu estado desde que tomei o meu primeiro medicamento. E era o medo desta ressaca que me impedia de deixar de esta droga de uma vez por todas.
Sim, porque é uma ressaca, como qualquer outro toxicodependente. Não tenho, com a graça de Deus, nenhum exemplo desses muito perto de mim, apenas digo o que vejo na televisão e leio… mas o que sinto é o mesmo. Só que eles não estão lúcidos e eu estou.
A minha droga, nunca me tirou a lucidez, pelo contrário, sempre me deu uma pequena ajuda pra resolver os meus problemas. Ou era o que eu pensava. Agora sem qualquer droga e com dez anos mais velha percebo que não era a droga. Era eu. Eu é que tenho dentro de mim a capacidade de resolver esses problemas, sejam eles do tamanho de um grão de areia ou de uma areal. Sou eu. Não é o Seroxat, o Pazolam ou o Trazone. Sim, porque até os touros tem nomes e eu pego os meus pelos cornos!
Faz agora 96 horas que nada tomo, porque me fartei. Fartei-me de pensar que só sou quem sou com a ajuda destas porcarias. Não sou. Eu sou eu, com todos os meus defeitos e virtudes.
Claro que pensando bem, não sei se conseguiria ter concluído o bendito curso se não tivesse tido a ajuda das drogas. Não sei…. Só Deus o saberá. Mas também me interrogo…. E se pró qualquer razão me estivessem a dar smarties em vez de medicamentos? Sem que eu soubesse, talvez fosse a mesma e tivesse os mesmos procedimentos que tive até hoje. Quem sabe? Só Deus. O meu ser físico estava sempre bem porque o psicológico sabia que estava a ser medicado. E se afinal tudo não passasse de um simples placebo? Divirto-me comigo mesma de pensar nisso. Tanto dinheiro gasto…… Sim, porque estas drogas não são baratas. E o preço mais alto, estou eu a pagar em suor. Porque esta ressaca dá suor. As lágrimas já foram, já estou calma, divertida e contente por tudo o que escrevi até aqui. É um bom exercício.
Deus colocou no meu caminho pessoas que me estão a ajudar….. Mas foi preciso eu me fartar para poder pedir ajuda……. E pedir ajuda não é vergonha nenhuma. Já o fiz várias vezes, porque à parte de todas estas confusões já fiz duas depressões pos-parto….. Mas prefiro o nome que os ingleses dão. Baby Blues…. É bem mais soft…..
Prometo a mim mesma que sempre que me sentir mal, ou com a falta dos meus medicamentos, vou escrever. É um bom exercício. E logo pra mim que nem sequer tenho muito jeito pra letras… sou mais números….. :)
Sou feliz, sou quem sou e felizmente sou amada por ser quem sou. De hoje em diante se tiver que chorar a ver um filme, choro. Se me emocionar com um abraço de um amigo, choro, se tiver que chorar de felicidade quando cumprir alguma das minhas muitas metas, choro. Choro e acabou-se. Porque sou eu. Porque sou assim. E porque não tenho que lutar contra quem sou, para ser eu. Para ser feliz. Porque se me apetece chorar ao ver a minha pequenina a sorrir, choro. Porque ela é tão linda, que de mim só receberá sentimentos puros. E nada é mais puro que o amor! Se me emocionar ao ver a minha filhoca maior a dormir, e pensar que Deus foi bom pra comigo, choro. Porque não posso ter medo de quem sou. E eu sou assim. Tenho o meu caminho terreno pra percorrer e sou o poderei percorrer na plenitude do meu ser, se for verdadeira. Verdadeira comigo mesma. E perceber que sou eu. Eu sou assim e só tenho mais é de me orgulhar disso. Quem me ama, sempre me conheceu assim, e não vou perder esse amor por me revelar limpa. Limpa de toda e qualquer droga que me possa disfarçar os sentimentos.
Porque o que estou a passar agora teve origem nisso mesmo, nessa vergonha, no medo de mostrar ao mundo que não sou de ferro.
Agora estou limpa e só peço a Deus que me dê força, muita força pra chorar, rir, ser feliz sem quaisquer porcarias.
Obrigado Deus.
A chorona mais emotiva deste planeta!
Patricia dos Reis Correia Benedito